sexta-feira, 24 de junho de 2011

1. Tribos Urbanas:
 
Podemos definir tribos urbanas como um grupo de pessoas com ligações estéticas, éticas
e pessoais, que compartilham da mesma ideologia e sentimento quanto a um determinado
assunto. Ao analisarmos, notamos que são grupos delimitados, com suas regras e rituais a
serem seguidos, porém, uma tribo urbana ultrapassa o local e passa para o global, porque
membros de uma mesma tribo são encontrados em diversas partes do globo. As tribos são
contrárias a qualquer instituição social ou organizações, como partidos políticos, sindicatos e
qualquer forma de manifestação de massa, porém, algumas tribos difundem e manifestam
suas opiniões políticas, sociais e religiosas de forma a chamar a atenção da sociedade (ARAÚJO,
2003, p. 8; COSTA, 2001, p. 45).
O primeiro autor a utilizar o termo “tribos urbanas” foi o sociólogo francês Michael
Maffesoli em seus artigos em 1985. Em 1988, o termo seria consolidado com o livro “O tempo
das tribos: o declínio do individualismo na sociedade pós-moderna”. O autor utilizava o
termo metaforicamente para denominar formas supostamente novas de associação entre os
indivíduos na "sociedade pós-moderna". (FREHSE, 2006, p. 1). Rogério Bianchi explica em
seu artigo sobre tribo urbana, de uma forma bastante resumida, mas que merece ser citada:
...o termo ‘tribos’ nada mais é do que uma metáfora para explicar a existência
de agrupamentos tipicamente urbanos, os quais constroem uma identidade
própria, identificando-se uns com os outros. Falar em tribo é como falar em
pacto. [...] Diante da impessoalidade e anonimato tão enraizados na sociedade
moderna, as tribos permitem a criação de códigos de comunicação e comportamentos
particulares, com o intuito de escapar da massificação imposta pelo
sistema capitalista e da solidão das metrópoles. (ARAÚJO, 2003, p. 1)
Os membros de uma tribo vivem por vezes realidades cotidianas diferenciadas entre si,
o que os leva a assumir uma espécie de dupla personalidade, por ter de “esconder” sua tribo
em determinados lugares e situações sociais. Podemos também considerar tribos urbanas como um movimento que tenta lutar contra o desencantamento da sociedade. E, que em uma
sociedade decadente e fragmentada, onde as pessoas se fecham cada vez mais, ainda há aqueles
que querem expor suas ideias, ideologias e pensamentos. Isso muitas vezes choca e agride
visual e esteticamente a sociedade em geral em busca de sua liberdade de expressão.


 
2. Gótico:
 
A cena gótica surgiu na década de 80, no Reino Unido, aparecendo em um cenário
pós-punk, e se difundiu pelo mundo gerando novas vertentes, filosofias e estilos de vida. O
termo fora utilizado para determinar estilos na literatura, arquitetura, pintura, escultura, tipografia,
vestuário e música. Esta denominação vem sendo feita desde o Império Romano com
os godos até hoje com os góticos ou darks. No inicio da década de 80, o termo fora desvinculado
de seu significado original para denominar uma tribo urbana. A mídia de massa, ao entrevistar
integrantes de diversas bandas relacionadas à subcultura que começava a surgir,
questionava a classificação da atmosfera musical destas bandas, que por muitas vezes se intitulavam
ou eram intituladas como sombrias, melancólicas e depressivas, daí a associação com
o termo gótico. A tribo urbana denominada gótica teve seu início no final da década de 1970 e
início na de 1980 no Reino Unido e é derivada do pós-punk.
O grupo foi visto como "movimento cultural" por causa de sua visão e comportamentos,
que são um protesto acerca da ambientação dada na época em que se iniciou. Segundo a
pesquisa que vem sendo desenvolvida, vemos que os membros desta tribo se alienam ao resto
da sociedade, se libertando de tudo aquilo que ela os impunha.
Ao contrário do que muito se pensa, a cultura ou subcultura gótica não é religião, seus
membros têm suas próprias crenças, sejam elas de quais religiões ou crenças forem. No entanto,
não vemos pessoas que sejam dispostas a seguir religiões, que, por natureza, imponham
qualquer tipo de dogma ou comportamento pré-definido por esta. Muitos dos membros seguem
religiões pagãs, porém, isto não é uma regra que se aplica a todos, pois como os próprios
membros da subcultura dizem, cada ser é um ser diferente e tem o livre arbítrio para
seguir aquilo que mais lhe convir, aquilo com o que se identificar.
Hoje em dia ainda encontramos alguns góticos fiéis à ideologia dos anos 80. Eles dizem
que o movimento se extinguiu nos anos 90, mas também encontramos alguns membros
mais tolerantes que gostam tanto da “old school goth” como da cena atual. O cenário musical
vem evoluindo a cada dia e se disseminando, novas vertentes, como o cyber gothic e o gothic
metal, vêm surgindo a cada dia, trazendo novas sonoridades ligadas à música gótica. Os góticos
vêm mostrando a cada dia uma nova representação de seu sentimento de desapego misturado à falta de esperanças. A cada dia vemos ainda mais a aposta em sua estética andrógina,
teatral e obscura.
Podemos ver que o movimento não é tão grande hoje como antes e que poucos membros
se mantêm fiéis à cultura dos anos 80, pois o tempo e a mídia modificaram muito a cultura.
O movimento passou por uma fase de “descanso”, em que se manteve no background das
subculturas. Como dizem seus integrantes, passou por um adormecimento para agora voltar à
cena de uma forma nova e com modificações em alguns de seus aspectos.
Atualmente, podemos ver muitos estilos e vertentes dentro do gótico, que tem crescido
cada dia mais e se disseminado. Também surgiram com isso muitos “posers”, ou seja, aqueles
que veem o estilo apenas como modo de chocar o resto da sociedade e que não conhecem nem
um pouco a verdadeira cultura. Estes membros geralmente estão totalmente expostos à mídia
e são influenciados por ela. Os góticos, com o passar dos anos, se adaptaram a diversas situações
do dia a dia e foram adaptando seu estilo de vida para conviver com as outras pessoas,
como a entrevistada Sarah Mortis5 falou em seu depoimento:
Bom, ser gótico, antes de tudo, somos pessoas comuns, trabalhamos, estudamos,
mas que buscamos um universo à parte, um universo paralelo ao existente.
Tanto é que as pessoas têm muito preconceito contra a nossa estética,
mas isso é um modo da gente digamos... Ser gótico é [...] uma vivência,
uma fuga da sociedade, uma crítica a sociedade, um jeito de, até mesmo
da nossa estética, é um jeito de fugir um pouco do comum, fugir um pouco
da realidade da sociedade...
A seguir veremos algumas das vertentes do universo gótico para entendermos um pouco
mais da estética e da cultura de nosso objeto de estudo.

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