3. Um pouco de cinema:
Esta mídia, nascida em forma de arte, e que se tornou com o passar dos anos grande
formadora de opiniões e difusora de gêneros, estilos e tendências, também foi em seu mais de
um século de vida tanto pivô como palco de diversas revoluções, evoluções e polêmicas. O
fenômeno chamado cinema nasceu no ano de 1895 na França pelas mãos, ou ideias, se assim
preferirem, dos irmãos Lumière.
Falando um pouco sobre a história do cinema é um tanto quanto difícil identificar qual
foi, quando foi e como foi realmente seu surgimento, pois, quanto mais os historiadores procuram
seu início, mais para traz na linha do tempo eles vão. Há teóricos que defendem o início
do cinema no período paleolítico, tomando por bases as pinturas feitas em relevo dentro
de cavernas escuras, onde, conforme a pessoa se movimenta, ou anda, as figuras parecem se
movimentar, formando assim uma sequência de animações.
O cinema dos irmãos Lumière teria início muitos séculos depois. Ele surgiu com base
no trabalho feito por cientistas, que utilizavam a “fotografia animada” para o estudo de mo-vimentos corporais. Houve também vertentes que se utilizavam destas fotografias de movimento
para fazer truques ilusionistas. O cinema feito pelos irmãos Lumière, assim como os
truques de ilusionismo, não agradava em nada as vertentes de estudos científicos, que diziam
que esta forma de retrato da realidade era apenas uma forma industrial de se tirar proveito das
massas criando mais uma forma de espetáculo.
Podemos atribuir a “invenção” do cinema a alguns aparelhos e práticas que o antecederam.
Alguns destes antepassados, ou antecessores que deram origem ao cinema, seriam: o
teatro óptico, o fenaquiscópio de Plateau, o zootrópio de Horner, o fuzil fotográfico de Marey,
o praxinoscópio de Reynaud, o quinetoscópio de Edison, o bioscópio de Skladanowsky, a
lanterna mágica e o cinematógrafo de Lumière e LeRoy. (MACHADO, 1997, p. 34). Estes
instrumentos, junto à descoberta e aperfeiçoamento da câmara escura e da teoria de phi6 de
Münsterberg, com o passar do tempo foram se unindo se aperfeiçoando e evoluindo para o
que hoje conhecemos como cinema.
Falando em mídia, é possível percebê-la inserida em diversos momentos e aspectos de
nosso cotidiano. Ela nos influência e nos guia muitas vezes em nosso modo de pensar e de
agir. Na sociedade atual, a mídia, aliada ao desenvolvimento acelerado de tecnologias de comunicação,
se tornou uma grande influenciadora no processo de formação das tribos que se
tornou mais complexo na sociedade contemporânea. (VIEIRA, p. 2). Assim, podemos definir
o aspecto mídia inserido no contexto cinema. Também porque hoje, em uma sessão de cinema,
podemos encontrar várias propagandas, sejam elas antes dos filmes ou inseridas neles de
forma subjetiva.
Falando em gêneros de filmes, podemos detectar hoje em dia diversas vertentes de estilos
dentro do cinema, algumas delas seriam animações, ação, comédia, policiais, cult, filmes
noir entre outros. A seguir veremos os gêneros mais influentes aos góticos.
3.1. Expressionismo Alemão
Surgido após a derrota da Alemanha na 1ª Guerra Mundial, o cinema de expressionismo
alemão traz consigo um sentimento de derrota, miséria e revolta contra a guerra e retrata
os estados de alma dos personagens e se vale de grandes contrastes, atuações exageradas, ce-nários fantasiosos e uma distorção voluntária da realidade. Julga-se que sua obra prima foi “O
Gabinete do Dr. Caligari” (1919). (Barbosa, p. 59).
Este gênero apareceu inicialmente em curtas metragens e veio a ganhar seu primeiro
longa em 1919. Os filmes de terror geralmente colocam seu espectador em um clima de desequilíbrio
e a transgressão do real. O gênero teve seu início no ano de 1931 com filmes hoje
considerados clássicos, como “Drácula” (Dracula - 1931) e “Frankenstein” (Frankenstein –
1931). Alguns dos filmes deste gênero que influenciaram na cena gótica são: “A lenda do
Cavaleiro sem Cabeça” e “Nosferatu”.
3.3. Suspense
Podemos atribuir a consolidação deste gênero ao cineasta Alfred Hitchcock. Seu nome acabou virando sinônimo de suspense na década de 1950, embora não tenha sido ele quemlançou as bases do gênero. O suspense utiliza o emocional das pessoas para terem expectativas
quanto àquilo que acham que acontecerá no filme ou que realmente acontecerá no filme.
Um dos títulos relacionados a este gênero, que contribuiu para o cenário gótico atual, é “O
Corvo”.
4. Cinema e abordagem da tribo
Com base nas pesquisas de campo feitas e com a análise de alguns filmes como “Repo!
The Genetic Opera”, “O Corvo”, “O Fantasma da Ópera”, “A Rainha os Condenados”,
“Entrevista com o Vampiro”, “Gabinete do Doutor Caligari”, “Nosferatu”, “Drácula de Bran
Stoker”, a análise de algumas personagens, como a Wednesday, de “A Família Adams”, a
menina de “Beatle Juice”, um figurante de “O Paizão” e das personagens de Tim Burton,
“Edward Mãos de Tesoura”, “Jack, Swenney Tood”, “A Noiva Cadáver”, “Batman o cavaleiro
das trevas”, entre outros filmes, pude analisar uma diversidade muito grande do retrato do
estilo gótico. Os filmes retratam a estética gótica, muitas vezes de modo exagerado, como
comentado pela entrevistada Ana Empress:
“... fica uma coisa muito vaga, e às vezes umas coisas até meio errôneas,
muitos filmes passam uma imagem totalmente ao contrário do que seria ogótico, sabe, exageram... quando eles conseguem acertar na aparência eles
erram nas atitudes, quando acerta as atitudes erra na aparência. Nunca fica
uma coisa perfeita.”
Foram analisados tanto filmes aconselhados como corretos quanto filmes que os
membros da tribo urbana consideram “errados”. Nesta análise pude concordar com a entrevistada,
pois os filmes mostram os góticos de maneira muito superficial. Nota-se que houve uma
pesquisa muito pequena, ou por parte dos atores na montagem dos personagens ou por parte
dos escritores, diretores e figurinistas. Durante a etapa de pesquisa estive muito próxima da
tribo urbana e tive certo convívio com os mesmos. Assim, pude analisar o comportamento dos
membros das tribos comparando o comportamento mostrado nos filmes e cheguei à conclusão
de que realmente a imagem passada pelo cinema é uma imagem superficial. Mesmo nos filmes
recomendados pelos membros da subcultura como sendo de acordo com a realidade gótica,
pude perceber uma série de contradições com as pesquisas que fiz e com a imagem e comportamento
que as pessoas que estão na cena gótica me mostraram, passaram e ensinaram.
4.1. Como o cinema retrata o Gótico
O cinema, como vimos, é um grande formador de opinião e muitas vezes ele caracteriza
e/ou difunde novas tendências, de moda, mercado e consumo. Não seria diferente com as
tribos urbanas. O cinema como formador de opinião difundiu uma imagem sobre os góticos.
Segundo filmes indicados por entrevistados, traçamos o perfil que o cinema passa sobre os
mesmos com base em três filmes que foram indicados por três ou mais entrevistados.
Os filmes mostram a imagem dos góticos vinculada a vampiros na maioria das vezes e
isso acabou virando uma espécie de guia, guia que acabou estereotipando a tribo em seus aspectos
comportamentais e algumas vezes até estéticos. Em contraponto, a ligação com os
vampiros se tem por causa de ambientações melancólicas e noturnas ligadas ao estilo. Também
porque os góticos despendem a maior parte de seu tempo em atividades no período noturno.
Embora muitos deles pratiquem suas atividades durante o dia, as atividades ligadas à
tribo são na maior parte entre o final da tarde e à noite.
No filme “A Rainha dos Condenados”, os góticos têm uma estética pesada e em muitas
cenas chegam a ser teatralizadas. O perfil de algumas personagens mostrado é o de pessoas
depressivas, decepcionadas com a vida ou simplesmente alienadas. A personagem principal,
o vampiro Lestat, é um ser decepcionado com o mundo e revoltado com aquele que o
criou. Por sua vez, ele quebra a máscara criada pelos vampiros para que se mantenham escondidos
do resto do mundo, se tornando um famoso roqueiro e provocando a fúria dos outrosvampiros.
No filme “Entrevista com o vampiro” há um ponto que é interessante ressaltar. Louis,
o “filho” de Lestat, se arrepende de ter se tornado vampiro no início do filme e carrega uma
grande culpa por matar aqueles que antigamente foram seus semelhantes. Algum tempo depois
ele transforma Cláudia, uma criança, em vampira. Ela se torna sua grande paixão, porém,
sente raiva por saber que nunca será como as outras mulheres.
No filme “Drácula”, de Bran Stoker, o príncipe Wlad perde sua grande paixão por
causa de uma traição e se volta contra a Igreja. Assim recebe como castigo se tornar um vampiro,
incapaz de amar. Ele recebe em seu castelo Jonatan, que veio como funcionário de uma
empresa, e descobre que a noiva de Jonatan, Mina, era a reencarnação de Elisabeta, sua noiva.
Ele vai a Londres conquistar Mina. No final do filme, ele se arrepende de tudo o que fez e
pede a Mina que o mate.
Analisando o perfil destas personagens, podemos ver que todas elas guardam muito
rancor, sofrimento, culpa e tristeza em seus íntimos. Seus figurinos se baseiam na estética
gótica que mistura os estilos medieval, vitoriano, uber, entre outros.
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