quinta-feira, 1 de maio de 2014


Adjetivos

Não vejo mais os adjetivos que tu usavas,
Sim os adjetivos que tu me rotulavas,
Perderam-se no emaranhado  de palavras,
Perderam-se.

Não me criticas mais!
Por quê?
Acabou o motivo,
Ou simplesmente te exaustou de tal feito?

Mulher, cadê?
Onde estão todos os adjetivos?
Viste que não tem lógica, rotulações insanas?

Fiquei sem teus adjetivos,
Adjetivos que me deixavam com ódio,
Mas que eu gostava,
Pois tu fazias-me existir,
Mesmo de maneira errônea.

E hoje de maneira tão mórbida,
Deixaste-me sem os adjetivos que me atribuía,
E hoje eu pergunto-me,
Onde estão os adjetivos que você esperneava com tanto furor,
Onde estão todos os adjetivos?

Autor: Kaype Luigi
          (Pekay Gilui)



Poeta Amador

Nunca soube como fazer versos,
Nunca soube rimar,
Mas no meu tempo,
As letras e os léxicos surgiam como,
Uma pipoca que escapava de uma pipoqueira.

Versos soltos,
Versos talvez tolos,
Simplesmente versos,

Versos, que dentro do mesmo verso,
Continha um poesia inacabada,
Que ia se completando,
Verso por verso.
E em cada verso,
Era uma poesia.

Poesia que como os tais versos soltos,
Era solta também,
E assim sendo,
Cada verso, uma poesia ali continha.

Poesia que muitos não sabiam e não sabem ler,
Não ler no sentindo literário,
No sentindo lógico das coisas,
E sim ler as entre linhas,
Pois cada verso continha o vestígio de um poeta como eu,
Amador!

Autor: Kaype Luigi
              (Pekay Gilui)

segunda-feira, 31 de março de 2014


31 de março: O Golpe Militar


Introdução: 

O golpe liderado pelos militares, que depôs o presidente João Goulart, representou a reação dos setores conservadores da sociedade brasileira à manutenção da política populista no país. 



A situação internacional 



O "populismo" apresentava sinais de crise já há alguns anos. A política adotada por Getúlio Vargas, de manipular e utilizar as massas trabalhadores para a sustentação do poder e ao mesmo tempo desenvolver a economia nacional, fortalecendo a camada empresarial urbana, desgastara-se desde o final da 2° Guerra Mundial. 

A partir de 1945 os EUA recuperaram sua hegemonia mundial. Abalada pela crise de 1929, a economia do grande país capitalista aproveitara-se da Grande Guerra para se recompor e voltava a ditar as regras para o mercado mundial. Os países europeus necessitavam recuperarem-se fisicamente e economicamente e, em grande parte, dependiam dos norte americanos. Do ponto de vista político, desenvolvia-se a Doutrina Trumam, que enxergava na URSS o grande inimigo do desenvolvimento capitalista e dos valores da democracia e foi utilizada para atrair diversos países para a formação de uma aliança anti-comunista, sob comando norte-americano. 

A recuperação da economia mundial comandada pelos EUA, privilegiava o capital monopolista das nações desenvolvidas e a concentração de renda, amparada no interesse em impedir a expansão do socialismo na Europa e mesmo na Ásia. Esse comportamento deve reflexos diretos e imediatos sobre os países latino-americanos, muitos dos quais viviam uma fase de desenvolvimento industrial, como o Brasil, e que não se encaixavam nas necessidades da nova ordem pós guerra. 

Em um primeiro momento, os países latino-americanos ainda mantiveram uma certa estabilidade financeira, devido ao aumento das exportações de produtos primários para os países que se recuperavam da Guerra, porém essa situação esgotou-se por volta de 1953. A queda dos preços teve grande impacto no setor agrário, que mantinha a estrutura latifundiária e monocultura tradicional e que não foi alterada pelos governantes populistas. A crise no setor primário teve diversas consequências: maior empobrecimento das camadas populares do campo e diminuição da capacidade de importação, atingindo as camadas médias urbanas e principalmente, a capacidade da industria nacional, afetando diretamente a política econômica do governo, baseada no "industrialismo nacionalista". Soma-se a essa situação o aumento da dívida externa e da inflação.

Populismo em crise 



A ascensão de Jango a presidência foi um dos momentos mais claros da crise do populismo. Em agosto de 1961, o presidente Jânio Quadros renunciava, após sete meses de governo. Segundo a Constituição o substituto imediato era o Vice- presidente, no caso, João Goulart. João Goulart ou Jango, foi o pivô da crise final do populismo. Latifundiário do Rio Grande do Sul, ascendeu à política nacional pelas mãos de Vargas, de quem era considerado continuador. Foi ministro do trabalho de Vargas, Vice-presidente de JK e era, em 1961, Vice-presidente da República, representando a política populista do PTB. Visto como esquerdista e portanto uma ameaça, pelos setores mais conservadores, teve sua posse barrada pelas pressões políticas comandadas pelo grande partido de oposição da época, a UDN e pela cúpula militar - general Odylio Denys, Almirante Silvio Heck e brigadeiro Grum Moss. Tal iniciativa era defendida abertamente por setores da imprensa como o jornal O Estado de São Paulo que no dia 29 de agosto afirmava: " ...a solução moral é a desistência espontânea do sr. João Goulart ou então a reforma da Constituição, que retira-se ao Vice-presidente da República o direito de suceder ao presidente..." (1). Ao mesmo tempo formou-se a partir do Rio Grande do Sul, a " Rede da Legalidade" defendendo o cumprimento da Constituição, garantindo a posse de Jango. A saída para tal crise passou longe de uma solução para o problema, enveredando para uma situação conciliatória com a aprovação de uma emenda à Constituição que instituiu o parlamentarismo no país. Dessa maneira a Constituição foi cumprida com a posse do Vice-presidente e os setores conservadores tiveram seu desejo atendido, pois Jango não seria efetivamente governante do país. 



Parlamentarismo



No dia 2 de setembro foi aprovada a Emenda Constitucional, previamente discutida e aceita por Jango, em Paris. Os ministros militares aceitavam também a situação e o novo presidente tomou posse em Brasília no dia 7 de setembro. De setembro de 61 a janeiro de 63 o Brasil viveu sob o sistema parlamentarista. Adotado como medida conciliatória frente a crise provocada pela renúncia de Jânio Quadros, esse sistema mostrou-se ineficiente naquele momento, mesmo porque, os principais líderes políticos e sindicais haviam sido formados dentro da concepção de uma estrutura centralizada, onde o presidente contava efetivamente com poder. No modelo adotado cabia ao presidente a indicação do primeiro ministro e a formação do Gabinete ( conjunto de ministros), que deveria ser aprovado por 2/3 do Congresso Nacional. O primeiro Gabinete foi liderado por Tancredo Neves e reuniu representantes dos principais partidos políticos. Depois desse, mais dois gabinetes foram formados em meio a uma crise política que praticamente paralisava a administração pública. Ao mesmo tempo em que procurava mostrar que o parlamentarismo não servia, Jango procurava contornar a grande rejeição ao seu nome no meio militar. Adotou uma política mais conciliatória, chegando a viajar aos EUA, com o intuito de melhorar as relações com aquele país e ao mesmo tempo obter ajuda econômica. O discurso moderado e a paralisia política abriram caminho para a campanha para a antecipação do plebiscito, marcado para 1965. Os setores moderados do PSD, e mesmo da UDN acabaram apoiando a antecipação, que contou ainda com a concordância dos militares.



O Governo de Jango



Os primeiros meses de governo foram acompanhados de grande expectativa. Destacavam-se como ministro Celso Furtado que, no ano anterior havia elaborado um plano de combate a inflação e de recuperação do crescimento, que deveria ser colocado em prática durante os 3 anos seguintes. O Plano Trienal considerava que a inflação era a grande responsável pela estagnação do crescimento, assim como pelo agravamento das tensões sociais. Nesse sentido, o Plano fazia uma análise de toda a conjuntura e salientava a necessidade de um conjunto de reformas que pudessem promover o crescimento e ao mesmo tempo diminuir as contradições sociais. No entanto, os governantes julgavam que a execução do Plano dependeria de apoio internacional, do governo norte-americano, do FMI e mesmo da URSS. As tentativas de negociação com os EUA e com o FMI podem ser consideradas como um fracasso. O pequeno empréstimo vindo dos EUA estava vinculado aos efeitos das medidas anti-inflacionárias; a desconfiança em relação ao Brasil era muito grande. Os resultados escassos da política externa foram responsáveis pelo aumento das críticas ao governo, tanto da "esquerda" como da "direita".

A mudança no ministério, inclusive com a saída de Celso Furtado. Enquanto a inflação caminhava, Jango perdia suas bases de sustentação política, tanto de setores moderados do PTB, seu próprio partido, como do PSD ( que aproximava-se do conservadorismo da UDN), assim como da ala esquerda do PTB e das organizações sindicais. A primeira manifestação política que deixou evidente a fraqueza do governo foi a Revolta dos Sargentos (12/9/63), quando cerca de 600 soldados tomam prédios públicos em Brasilia, quebrando a hierarquia com o pretexto de contestarem o direito a elegibilidade. Enfraquecido pela crise econômica e pelas pressões internas e externas, Jango voltou-se para os grupos mais a esquerda, aliando-se a Leonel Brizola e Miguel Arraes e buscava apoio nos sindicatos e organizações estudantis.

Em contrapartida, os setores conservadores organizavam-se através do IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática) financiada pela Embaixada dos EUA, e através do IPES, organização do empresariado paulista No dia 13 de março realizou-se o comício da Central do Brasil, onde Jango proclamava as Reformas de Base, decretando o início do processo de reforma agrária. A reação conservadora veio seis dias depois em São Paulo, com a Marcha com Deus e a família pela liberdade, organizada pela Igreja Católica, reunindo as camadas médias.

A postura do Presidente da República frente o "Levante dos Marinheiros" do dia 25 pode ser considerada como a gota d´água para a organização concreta da conspiração golpista, tendo como articuladores o Marechal Castelo Branco, o General Mourão Filho e o General Kruel, além dos governadores de Minas Gerais, Magalhães Pinto e do Rio de Janeiro, Carlos Lacerda. Também os governador de São Paulo apoiou o golpe. No dia 30 de março as tropas do General Mourão Filho começam a se deslocar para o Rio de janeiro. É o início do movimento militar, já previsto pelos mais variados setores da sociedade. Jango enviou tropas do Rio de janeiro para conter os militares mineiros, porém, tanto o 1° como o 2° exército aderiram ao movimento.

Em 1° de abril Jango deslocou-se para o Rio Grande do Sul e desistiu de organizar um movimento de resistência, apesar das pressões de Brizola. Em Brasília Auro de Moura Andrade declarou vago o cargo de presidente e seguiu a prática Constitucional, empossando Ranieri Mazzili, que era o presidente da Câmara do Deputados. O governo norte americano foi o primeiro a reconhecer a nova situação. 

Consolidava-se a reação conservadora, comandada pelos militares, que eliminavam definitivamente o populismo, abalado há muito tempo por suas próprias contradições internas



(1) citado in História da Sociedade Brasileira, pag. 298, de Francisco Alencar, Ed. Ao Livro Técnico

http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=291

quarta-feira, 19 de março de 2014

 

GAY HETEROSSEXUAL 

Fabrício Carpinejar

- Você é um gay heterossexual, Fabrício.
- Eu?
- Sim, um gay que gosta de mulher e só de mulher, essa é a diferença.
- De onde está tirando isso? Eu adoro futebol.
- Meu cabeleireiro também adora.
- Gosto de lavar carro e sofro com todo arranhão.
- Meu estilista também.
- Ai meu Deus. Você não me ama mais.
- Viu como é dramático? Qualquer coisa é uma ópera. Gay!
- Não sou nada. Não uso piteira para tragar as palavras.
- Olha aí, humor refinado, seu humor é gay, quem entenderia essas piadas?
- Está provocando à toa.
- Não, acho extremamente viril um gay ser heterossexual.
- Me mostra que sou gay?
- Lembra quando fez strip na última semana?
- Lembro, e daí, não gostou?
- Vibrei, sabemos, mas você arrancou a camisa, a calça, jogava para o lustre, para a janela, mostrava um desinteresse passional. Um furacão.
- E...
- No instante de retirar as meias, criou um novelo com as duas, como se fosse guardar na gaveta.
- Não me diz que é gay?
- Foi uma parada gay.
- Para de polemizar. Não posso ser gentil, educado, afetuoso e já me rotula.
- Conversa de gay, não recordo de marmanjo defendendo sua ternura.
- Sou vaidoso do amor, e daí?
- Pinta as unhas, corta o cabelo uma vez por semana, seu guarda-roupa é duas vezes o meu, adora lojas, é refinado, disposto a debater duas horas se leva uma echarpe ou não.
- Não vejo a vida com maniqueísmo: homo e hétero.
- Quanto tempo suporta uma mancha no tapete?
- Cinco minutos.
- O tempo para buscar o desinfetante, né?
- Quer uma prova de que sou inteiramente masculino?
- Inteiramente? Estranho, um gay é que emprega muito o advérbio.
- Deixa falar?
- Me diz qual a prova irrefutável?
- Eu tenho poncho.
- Gay não usa poncho?
- Vou mandá-la para o Analista de Bagé para acabar com essa frescura.
- Tudo bem, é um homem, um homem gay.
- Poderia arrumar seu brinco? Está caindo...
- Falei? Repara em tudo, comenta qualquer pessoa que passa, o jeito que ela se veste, o jeito que fala, tomado de uma maldade alegre.
- Falando mal dos outros é que aprendi a me criticar.
- Nunca tem fim uma discussão de relacionamento, emenda um problema no outro, não termina um assunto
- Acho que você estava acostumada com o desprezo...
- Está me ofendendo.
- Eu puxo seus cabelos.
- E, se encontrar um nó, desembaraça.
- É um detalhe.
- Observa agora sua quebradinha de quadril para afirmar que não é gay.
- Não é suficiente.
- Combina cueca com camiseta. Homem não escolhe a cueca. Pega a primeira que aparecer pela frente.
- Não me convenceu. É capricho.
- Limpa a casa com entusiasmo, vocação maternal.
- É uma vingança porque canto ABBA na cozinha.
- Não me entenda mal, acho você um homem perfeito. Mais: o super-homem do Gil.
- Gilberto Gil, pretende me desmoralizar...
- É um elogio, porra!
- Parece um homem falando agora.
- Vá se danar.
- Descobri o que quer com essa conversa. Já transou com gay, acertei?
- Tudo bem, sua paranoia é masculina. 



Amor?

Bom, todas que amei foi amor poético,

Pois não há outra forma de ser!

Minha vida é pura poesia,

E todo amor é a rima perfeita,

É o jogo,

Sim, o jogo dos mais belos versos que um poeta possa escrever.



Mas confesso, amei intensamente e verdadeiramente cada uma delas, Amei sim, mas passou,

Tudo passa, todas passam até chegar o anjo que me beijou a boca,

E me transformou nesse poeta sonhador.



Cada donzela que beijei, não tem o gosto do seu beijo,

Nenhuma tem a maciez de seus lábios,

Muito menos a fragrância do teu perfume.



Andei pela boemia, recitei versos para quem não devia,

Amei com o amor que só os boêmios possam amar,

Cada poesia foi um amor diferente, até que um dia, no boteco da vida, Eu possa te encontrar de novo,

Doce donzela, doce poetisa!



Autor: Kaype Luigi
                                                                            (Pekay Gilui)




VIDA DE POETA
Arte de Maurice Denis

Fabrício Carpinejar



"Escondo a etiqueta do meu corpo. Coloco para dentro da pele. Não permito ninguém reparar meu valor.

Há uma ilusão feminina de que viver com um poeta é uma maravilha, que ele é um semideus da sensibilidade, superdotado de gentilezas e afagos.

Lamento decepcionar, o sonho acabou. Antes de sua morte, Lennon descobriu que não se leva poeta para casa - no máximo come-se em motel.

Não sei o que as mulheres imaginam, mas só o fato delas me imaginarem me tornam bem melhor do que realmente sou.

Talvez confundam o poeta com a própria musa. Se for, me enquadro numa musa raquítica.

Será que acreditam que ele estará recitando versos aos ouvidos num plantão 24 horas? Não, convenhamos, é insuportável. Já procuramos um intervalo comercial quando é prosa.

Será que confiam que é derramado e caprichoso em tempo integral? Será que supõem uma lenta massagem nos ombros para espantar enxaquecas? Que é um homem pronto para escutar os desabafos, que nunca soltará um desaforo de graça nem quebrará um cisne de porcelana de Tawain?

O poeta é sempre a exceção para quem não vive com ele. Encastelo-me com a série de perguntas dirigidas aos meus familiares.

- Como é ter um pai poeta? Deve ser lindo.
- Como é ter um namorado poeta? Deve ser lindo.

Lindo? Assim como virou hábito visitar a cozinha dos restaurantes, recomendo aos vereadores de nossa cidade instaurar a lei "Visite seu poeta".

Ficarei tão constrangido como nudez de macho em lago gelado. É certo que no domingo estarei assistindo a uma maratona futebolística, entremeada dos campeonatos espanhol, italiano e inglês, além dos estaduais. Emendarei um jogo a outro, sem pausa. Falarei disso no resto do dia, depois de acompanhar os programas de reprise de gols e comentários das rodadas. Lembra alguém?

Se ela desfilar de lingerie pequeníssima, sou capaz de entortar o pescoço para não perder o lance... Na tevê.

Não me diferencio de nenhum estereótipo masculino. Frequentarei o mercado a contragosto, praguejando as filas e o estacionamento. Reclamarei no momento de visitar a sogra. Vou esperar comidinhas de mão beijada. Não atenderei ao telefone. Talvez leve o lixo para baixo e lave a louça, o que não traduz culpa e reconciliação, é uma tática para renovar o crédito da vadiagem e pedir mais em seguida. Dormirei num espetáculo de balé ou num musical. O ronco cumprirá minha rara intervenção no teatro, uma espécie de aplauso. Não duvido que não perceba o corte de cabelo novo da namorada. E sua vontade de sair e caminhar ao redor da praça.

Tão parvo e tosco como qualquer marmanjo num final de semana.

Não troque seu marido por um poeta. Os direitos autorais não compensam."