A psicologia faz fronteira, de um lado, com a neurologia - e
aí se desenvolve a chamada neurociência - e, de outro, com a filosofia - e esta
fica bem perto da poesia. Os poetas tratam, de forma livre e extravagante, de
todas as questões relativas à nossa existência. Respeitam apenas suas próprias
normas estéticas; não é raro que também transgridam. Não precisam ordenar suas
observações nem devem se preocupar com isso, pois esse é o trabalho dos
filósofos. Estes chegam mais tarde e tratam de construir sistemas.
Utilizam como matéria-prima para suas elaborações justamente
aquelas maravilhas que os poetas foram lançados a esmo.
Aí chegam os cientistas e se apropriam desse material precioso
para dar a ele serventia. Os resultados obtidos com as estratégias elaboradas a
partir das doutrinas que construíram irão confirmar ou infirmar as suposições
que, um dia, emanou da mente do poeta - e que foram modificadas e eventualmente
deformadas ao longo do caminho. Assim se construiu o fundamento da “ciência da
alma”, sendo a psicanálise sua expressão maior e tendo Freud como o personagem
central.
Nem todos têm a ousadia e a coragem dos poetas. Felizmente
podemos usufruir o que produzem.
Flávio Gikovate
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